– O pão que eu ganho com o meu corpo, com quem o parto?
– Comigo.
Mas outra do lado berra:
– A gente aqui é como os cães. Toca a rir, raparigas!
Se uma mãe adivinhasse para o que cria aos seus peitos uma filha!... – E virada para um que entra! – Olha lá, ó coisa, puseste-me o corpo negro noutro dia... Tu imaginas que uma pessoa é de ferro?
– Abaixo as patas!
Uma mulher pergunta a um velho ladrão calvo, que a um canto ri, com a boca disforme, escancarada na sombra:
– Tu que eras, ó velho?
Mas ele ri-se com a boca aberta saindo do escuro – só boca – como a fauce desdentada dum lobo, e um outro é que responde:
– O velho era lavrador. Olhai-lhe pra as mãos.
Cheira a terra e a pobre.
O filósofo, a um canto, cisma, olhando a Mouca entretida a falar com os soldados:
– «Tenho muito que te dizer – tanto!... – e não sei o que te hei-de dizer!...
Se me perguntam: – Tu que tens? – parece-me que acordo e que me puxam para a terra.
As árvores levam todo o inverno a sonhar inchadas e um dia acordam desfeitas em sonho. É o que lhes acontece.
Ora vem aí Março, já rebentaram novas fontes...
Maria é um nome tão lindo!» Falam aos grupos, num burburinho. Andam todas mal vestidas e com frio. Uma traz meias amarelas e outra, a quem a tosse desconjunta, cobre-se com um xale de seda que a não aquece.
– E tu que eras?
– Eu nada. Basta de conversas. Dás-me um beijo?
– Tira-te! A ti um beijo!... Antes queria morrer.
Nem morta eras capaz de me dar um beijo. Com essa cara! Olhai pra ele, raparigas... Já viram alguém rir-se assim?
– O minha arrolada!
E deu-lhe um pontapé.
Entretanto duas mais afastadas conversam no escuro:
– Nesse dia tomo um bebedeira, que há-de dar que falar.