Sherlock Holmes, vivo, impaciente, metido no seu boné de viagem com abas largas para proteger as orelhas, mergulhava num pacote de jornais da última edição que comprara em Paddington. Tínhamos deixado Reading para trás quando ele pegou no último jornal e me estendeu a sua cigarreira.
- Estamos a andar muito bem - disse, espreitando pela janela e olhando para o relógio. - Neste momento a nossa velocidade é de cinquenta e três milhas e meia por hora.
- Não reparei nos postes miliários de um quarto - disse-lhe eu.
- Nem eu. Mas os postes telegráficos desta linha são de sessenta jardas de distância, e o cálculo é simples. Já considerou, com certeza, o caso do assassínio de John Straker e o desaparecimento do Estrela de Prata?
- Já li o que dizem o Telegraph e o Chronicle.
- É um desses casos em que a arte do raciocinador seria usada mais para peneirar do que para adquirir novas provas. A tragédia foi tão única, tão perfeita e de tal importância para tantas pessoas, que possuímos uma infinidade de suspeitas, conjecturas e hipóteses. A dificuldade é separar a estrutura do facto - do facto absoluto, inegável - das fantasias dos teoristas e repórteres. Estabelecidos, então, nesta base exacta, o nosso dever é verificar que conclusões se podem tirar e quais são os pontos especiais em redor dos quais gira todo o mistério. Na noite de terça-feira recebi telegramas do coronel Ross, proprietário do cavalo, bem como do inspector Gregory, que está a tratar do caso, solicitando a minha cooperação.
- Terça-feira à noite! - exclamei. - E já estamos na manhã de quinta. Por que não veio ontem?
- Porque cometi uma asneira... a qual é, segundo receio, uma ocorrência mais vulgar do que poderia pensar alguém que só me conhecesse por intermédio das suas memórias.