As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 10: O Tratado Naval Pág. 242 / 274

É absurdo pensar que você tenha, de uma assentada, dois inimigos: um que o rouba e outro que lhe ameaça a vida.

- Mas Sr. Holmes disse que não voltava a Briarbrae.

- Eu já o conheço há um certo tempo - disse - e nunca o vi dar passos que não tivessem um motivo justo e plausível.

Com estas palavras, a nossa conversa desviou-se para outros assuntos.

Aquele dia, para mim, foi fatigante. Phelps estava ainda muito fraco e as suas desditas tinham-no tornado nervoso e lamuriento. Em vão me esforcei por interessá-lo pelo Afeganistão, pela Índia, por questões sociais, por tudo, enfim, que o pudesse afastar da sua desventura. Mas voltava sempre ao tratado perdido, imaginando, adivinhando, especulando sobre o que Holmes estaria a fazer, que medidas iria lorde Holdhurst tomar, que notícias teria na manhã seguinte. Ao aproximar-se o anoitecer, a sua excitação tornou-se quase insuportável.

- Você tem uma fé incondicional em Holmes, não é verdade?

- Já o vi realizar coisas admiráveis - respondi.

- Mas já o viu fazer luz num assunto tão obscuro como este?

- Sem dúvida. Tenho-o visto resolver questões que apresentavam ainda menos indícios do que a sua.

- Mas com tão grandes interesses em jogo?

- Isso não sei. Mas sei que ele actuou em benefício de três casas reais da Europa, em assuntos vitais.

- Mas você conhece bem Holmes, Watson. É um sujeito esquisito, com o qual não sei como lidar. Parece-lhe que ele tem esperança de resolver o caso com êxito?

- Bem, ele não disse nada.

- É mau sinal.

- Muito pelo contrário. Tenho verificado que é quando está sem pistas que não pára de falar. Mas, quando as encontra e não está ainda bem seguro de si, fica taciturno.





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