É, com efeito, um lugar assombroso. A torrente, engrossada pelas neves derretidas, mergulha num tremendo abismo donde se eleva uma névoa espessa, em novelos, como o fumo de uma casa incendiada. O sorvedouro para onde o rio se despenha é um imenso precipício, circundado de rochas cintilantes e negras como carvão, estreitando-se numa apertada garganta; abismo fervente de incalculável profundidade que aperta e atira a corrente para a sua orla denteada. A longa voragem da água verde caindo, no seu eterno rugir, e a densa cortina tremulante daquela nuvem que eternamente se eleva põem um homem atordoado com o seu constante redemoinho e clamor. Parámos à beira do abismo, olhando, muito abaixo de nós, a cintilação da água que se dilacera contra as rochas negras e escutando o grito meio humano que se dilata, bramando, com a espuma do abismo.
No caminho, fora aberto um miradouro em ao redor da queda de água, para proporcionar um panorama completo, mas termina abruptamente, e o viajante é obrigado a regressar pelo mesmo sítio. Tínhamos então voltado quando vimos um rapaz suíço a correr com uma carta na mão. Trazia o carimbo do hotel onde nos havíamos hospedado e era-me dirigida pelo proprietário. Uma senhora inglesa, dizia, tinha chegado logo após a nossa partida e estava em estado grave; passara o Inverno em Davos-Platz e viajava agora para se reunir aos seus amigos em Lucerna quando uma hemorragia repentina lhe sobreveio.