»Deu um salto violento e soltou uma espécie de grito ofegante quendo falei, e esse salto e grito perturbaram-me mais do que tudo o resto, pois havia algo de culpa neles que não consigo descrever. A minha mulher sempre foi franca, aberta, e deu-me um arrepio ao vê-la escapando do seu próprio quarto quando o seu marido falou com ela. “Estás acordado, Jack!” – exclamou, com um riso nervoso. – “Porquê? Pensei que nada conseguia acordar-te.” “Onde estiveste?” – perguntei com mais firmeza. “Não me admiro que tenha ficado surpreso” – disse ela, e eu podia ver que os seus dedos tremiam quando ela desabotoou o fecho do seu manto. – “Ora, eu não me lembro de ter feito isto alguma vez antes. O facto é que me estava a sentir sufocada, e tinha uma ânsia enorme por uma lufada de ar fresco. Acho que acabaria por desmaiar se não tivesse saído. Fiquei ao pé da porta por alguns minutos, e agora estou muito melhor.”
»Durante o tempo em que ela me esteve a contar esta história não olhou na minha direcção uma única vez, e a sua voz não tinha o tom habitual. Era evidente para mim que o que ela dizia era falso. Não disse nada, virei-me para a parede, com o coração desfeito, com a minha mente repleta de dúvidas e suspeitas venenosas. O que é que a minha esposa me ocultava? Onde teria estado durante essa estranha expedição? Senti que não teria paz até ter a resposta a essas questões, mas não consegui voltar a perguntar-lhe. Durante o resto da noite só pensava em cenários, cada um mais improvável que o último.