As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 2: A Face Amarela Pág. 41 / 274

Resolvi não contar nada à minha esposa sobre o sucedido pois ela é uma mulher muito nervosa e eu não tinha qualquer desejo de partilhar a desagradável impressão com que tinha ficado. No entanto, comentei com ela, antes de adormecer, que a casa estava agora ocupada, mas ela nada respondeu.

»Tenho normalmente o sono muito pesado. A minha família até brincava dizendo que nada poderia acordar-me durante a noite. Mas nessa noite em particular, talvez devido à excitação produzida pela minha pequena aventura, não sei, mas dormi de forma mais leve que o habitual. Meio a sonhar, pareceu-me que algo estava a acontecer no meu quarto e, gradualmente, fui tomando consciência que a minha mulher se tinha vestido e estava a colocar a sua capa e o seu chapéu. Os meus lábios estavam entreabertos a murmurar algumas palavras sonolentas de surpresa ou de protesto por esta preparação prematura quando, de repente, os meus olhos semiabertos caíram sobre o seu rosto, iluminado pela luz das velas, e o assombro me segurou as palavras. Ela apresentava uma expressão no rosto que eu nunca tinha visto antes, uma expressão que nunca pensei que o rosto dela pudesse assumir. Estava mortalmente pálida e respirando rapidamente, olhando furtivamente para a cama para ver se me tinha acordado. Então, pensando que eu ainda estava a dormir, ela saiu silenciosamente do quarto e, um instante depois, ouvi um rangido agudo que só poderia vir das dobradiças da porta da frente. Sentei-me na cama e bati com os nós dos dedos na beira só para ter a certeza que estava realmente acordado. Tirei o relógio debaixo da almofada. Eram três da manhã. Mas o que diabo poderia estar a fazer a minha mulher na estrada às três da manhã?

»Sentei-me na cama por cerca de vinte minutos revirando a minha mente em busca de uma explicação plausível.





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