As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 3: O Escriturário da Corretagem Pág. 67 / 274

Então, segurando firmemente o jornal, desapareceu atrás da porta.

- Lá vai ele! - gritou Hall Pycroft. - São os escritórios da Companhia, onde ele entrou. Venham comigo e trataremos do assunto tão facilmente quanto possível.

Seguindo-lhe o rasto, subimos cinco andares, até encontrarmos uma porta meio aberta, onde o nosso cliente bateu. Uma voz de dentro ordenou: «Entre.» Penetrámos numa sala nua, desguarnecida, tal como Hall Pycroft a tinha descrito. Junto da única mesa estava sentado o homem que tínhamos visto na rua, com o jornal à sua frente, e quando olhou para nós pareceu-me que nunca eu tinha encarado um rosto que ostentasse tantos sinais de angústia - e de alguma coisa mais: uma dor que poucos homens sentem na vida. As sobrancelhas brilhavam de suor, a face tinha o tom branco, triste e sepulcral do ventre de um peixe e os olhos pareciam selvagens e espantados. Olhou para o seu escrevente como se o não pudesse reconhecer, e pude notar, pelo assombro que se estampou na fisionomia do nosso guia, que aquela não era a aparência habitual do seu patrão.

- O senhor parece doente, Sr. Pinner! - exclamou ele.

- É verdade. Não estou a passar bem - respondeu o outro, fazendo óbvios esforços para se recompor, e lambendo os lábios secos antes de falar. - Quem são estes cavalheiros?

- Este é Sr. Harris, de Bermondsey, e este outro é Sr. Price, desta cidade - disse o nosso escriturário com desembaraço. - São meus amigos, homens experientes, mas ficaram desempregados há pouco tempo e esperavam que o senhor talvez lhes pudesse descobrir uma vaga no quadro de funcionários da Companhia.

- É muito possível. É muito possível - repetiu, com um sorriso medonho. - Não tenho dúvida de que lhes poderemos arranjar qualquer coisa.





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