O animal deu um salto, cambaleou por instantes na borda do precipício e depois caiu a rolar, indo-se precipitar no vale.
Era demasiado pesado para ser levantado, por isso o caçador contentou-se em cortar um quadril e parte do flanco. Com este troféu ao ombro, voltou atrás, apressadamente, porque a noite já se aproximava. Contudo, mal iniciara a viagem de regresso quando tomou consciência da dificuldade que se lhe deparava. Na sua avidez afastara-se muito das ravinas que conhecia e não era fácil descobrir o caminho por onde enveredara. O vale onde se encontrava dividia-se e subdividia-se em muitas gargantas, que eram tão parecidas, que quase se tornava impossível distinguir umas das outras. Convencido de que tinha seguido na direcção errada, tentou outra, mas com o mesmo resultado. A noite aproximava-se rapidamente e estava quase escuro quando finalmente se encontrou num desfiladeiro que lhe era familiar. Mesmo nessa altura não foi fácil seguir o trilho certo, porque a Lua ainda não aparecera no horizonte, e os penhascos elevados no outro lado tornavam a obscuridade ainda mais profunda. Vergado pelo peso da carga e cansado devido ao esforço, seguiu aos tropeções, sem esmorecer, a pensar que cada passo o aproximava de Lucy e que levava o suficiente para lhes garantir alimento para o resto da viagem.
Chegara já à boca do desfiladeiro onde os tinha deixado.
Mesmo na escuridão conseguiu reconhecer o contorno dos penhascos que o delimitavam. Eles deviam estar à sua espera cheios de ansiedade, porque se ausentara quase cinco horas, pensava ele. Louco de alegria, levou as mãos à boca e fez que o vale estreito repetisse um olá ruidoso para assinalar a sua chegada. Parou e pôs-se à escuta, esforçando-se por ouvir uma resposta. Só ouviu o seu próprio grito, que subiu as ravinas lúgubres e silenciosas e voltou aos seus ouvidos vezes sem conta. Gritou de novo, ainda mais alto do que anteriormente, e não veio nenhum sussurro dos amigos que deixara há tão pouco tempo.
