Um Estudo em Escarlate - Cap. 13: 6 - Uma Continuação das Memórias do Dr. John Watson Pág. 117 / 127

Seria tão mortal e muito menos ruidoso do que disparar uma arma através de um lenço. A partir desse dia trouxe sempre comigo as caixas dos comprimidos e chegara a hora em que me ia servir deles.

»Era quase uma hora e estava uma noite terrível, gelada, com vento forte e a chover torrencialmente. Apesar de estar escuro lá fora, sentia-me contente... tão contente que podia ter gritado de alegria. Se algum dos senhores alguma vez desejou ardentemente uma coisa, se a desejou durante vinte longos anos, e depois, de repente, vê que está ao seu alcance, compreenderá os meus sentimentos. Acendi um charuto e fumei-o para me acalmar, mas as minhas mãos tremiam e as têmporas latejavam de excitação. Enquanto conduzia, via o velho John Ferrier e a doce Lucy a olharem para mim na escuridão e a sorrirem-me tão nitidamente como os estou a ver nesta sala. Durante o percurso foram à minha frente, um de cada lado do cavalo, até que parei perto da casa, na Brixton Road.

»Não se via vivalma; não se ouvia um único som a não ser o das gotas da chuva. Quando olhei lá para dentro, através da janela, dei com Drebber todo enroscado a dormir. Dei-lhe um abanão no braço, «É aqui que sai», disse eu.

»«Está bem, cocheiro», disse ele.

»Acho que pensou que tínhamos chegado ao hotel que mencionara, porque saiu sem dizer mais nada e seguiu-me até ao jardim. Tive de caminhar ao lado dele para o amparar, visto que ainda estava um pouco ébrio. Quando chegámos à porta, abri-a e conduzi-o ao compartimento da frente. Dou a minha palavra de honra de que, durante todo o percurso, o pai e a filha caminharam à minha frente.

»«Está muito escuro», disse ele, andando de um lado para o outro para aquecer os pés.

»«Em breve teremos luz», disse eu, acendendo um fósforo e chegando-o a uma vela de cera que levara comigo. «Então, Enoch Drebber», continuei, virando-me para ele e mantendo a luz perto da minha cara, «quem sou eu?»

»Ele olhou-me fixamente por um instante com os olhos toldados do álcool; depois vi aparecer neles o terror e convulsionar-se-lhe o rosto, o que me fez compreender que me conheceu.