Em cinquenta que conseguem pensar sinteticamente há um que é capaz de raciocinar analiticamente.
- Confesso - disse eu - que não o estou a compreender muito bem.
- Já contava que não compreendesse. Deixe-me ver se consigo explicar isto de um modo mais claro. A maioria das pessoas, se lhes descreverem uma sequência de acontecimentos, dir-lhe-ia qual seria o resultado. Podem reunir no espírito todos esses acontecimentos e argumentar a partir deles que algo irá acontecer. Há poucas pessoas, contudo, que, se lhes der um resultado, conseguirão imaginar os passos que conduziram a esse resultado. É a esta faculdade que eu me refiro quando falo de raciocínio em sentido retrógrado ou analítico.
- Compreendo - disse eu.
- Agora, este era um caso em que nos era dado o resultado e em que teríamos de descobrir o resto pelos nossos próprios meios. Agora deixe-me tentar mostrar-lhe os diferentes passos do meu raciocínio. Para começar, o princípio. Como sabe, fui a pé até à casa e com o meu espírito inteiramente livre de todas as opiniões. Comecei naturalmente por examinar a rua, como já lhe expliquei; vi nitidamente as marcas de um cabriolé, que, como averiguei, devia ter lá estado durante a noite. Convenci-me de que se tratava de um cabriolé e não de uma carruagem particular por causa da pequena espessura das rodas. O trem vulgar na cidade de Londres é muito menos largo do que uma carruagem particular fechada.
»Este foi o primeiro ponto ganho. Depois, desci devagar o carreiro do jardim que, no caso, era composto por um solo argiloso, particularmente apropriado para tirar impressões. Certamente que lhe pareceu ser uma simples linha na lama feita por pés mas, para os meus olhos experimentados, cada marca tinha um significado. Não existe nenhum ramo na ciência da investigação que seja tão importante e tão negligenciado como a arte de seguir pegadas. Felizmente, sempre lhe atribui grande importância, e a prática transformou-a numa segunda natureza para mim.
