Por conseguinte, toda a vida é uma enorme cadeia, cuja natureza é conhecida sempre que nos mostram um único elo. Como todas as artes, a Ciência da Dedução e Análise é a única que se pode obter com um estudo prolongado e paciente; nem a vida é suficientemente longa para permitir a qualquer mortal atingir a máxima perfeição possível Antes de me debruçar sobre estes aspectos morais e mentais da questão, que oferecem as maiores dificuldades, deixemos que o investigador comece por dominar problemas mais elementares. Deixemos que ele conheça outro ser humano, que aprenda num relance a distinguir o passado do homem, e o ramo de negócio ou a profissão a que ele está ligado. Embora um exercício como este possa parecer pueril, estimula a capacidade de observação e ensina uma pessoa para onde deve olhar e o que deve procurar. Pelas unhas de um homem, pela manga do seu casaco, pelas botas, pelos joelhos das calças, pelas calosidades do dedo indicador ou do polegar, pela expressão do rosto, pelos punhos da camisa, por todas estas coisas, revela-se claramente a profissão de um homem. Que tudo isto não consiga esclarecer o investigador competente, em qualquer caso, é quase inconcebível.
- Que disparate! - gritei, pousando violentamente a revista em cima da mesa. - Nunca na minha vida vi semelhante disparate.
- Que foi? - perguntou Sherlock Holmes.
- Este artigo - disse, apontando para ele com a colher do ovo, quando me sentei para tomar o pequeno-almoço. - Vejo que o leu, uma vez que o assinalou. Não nego que esteja inteligentemente escrito. No entanto, irrita-me. É evidentemente a teoria de algum ocioso que desenvolve todos estes pequenos paradoxos no isolamento do seu escritório. Não é prático. Gostava de o ver enfiado numa carruagem de terceira classe no metropolitano e de lhe pedir que me desse as profissões de todos os que viajavam com ele. Aposto que dificilmente o conseguiria.
- Perderia o seu dinheiro - comentou Holmes, calmamente. - Quanto ao artigo, eu mesmo o escrevi.
