- Para uma grande mente nada é insignificante - comentou Holmes, sentenciosamente.
- Bem, fui ter com o Underwood e perguntei-lhe se tinha vendido um chapéu daquele tamanho e tipo. Ele examinou os livros e encontrou-o logo. Enviara o chapéu a um Sr. Drebber, que residia na pensão Charpentier em Torquay Terrace. Foi assim que obtive a morada dele.
- Inteligente, muito inteligente! - murmurou Sherlock Holmes.
- Depois fiz uma breve visita a Madame Charpentier continuou o detective. - Encontrei-a muito pálida e muito aflita. A filha também estava na sala - é uma rapariga invulgarmente bela, e os lábios tremiam enquanto falava com ela. Isso não me passou despercebido. Comecei a desconfiar. Você conhece a sensação, Sr. Sherlock Holmes. Quando se está na pista certa... bem, sente-se uma espécie de tremor nos nervos. «Ouviu falar da morte misteriosa do seu mais recente pensionista, o Sr. Enoch J. Drebber, de Cleveland?», perguntei.
»A mãe acenou com a cabeça. Parecia não conseguir articular nenhuma palavra. A filha desatou a chorar. Compreendi que aquelas pessoas sabiam alguma coisa sobre o caso.
»«A que horas saiu o Sr. Drebber de sua casa para ir apanhar o comboio?», perguntei.
»«Às oito horas», disse ela, engolindo em seco para reprimir a agitação. «O secretário dele, o Sr. Stangerson, disse que havia dois comboios: um às 9.15 e outro às 11. Ele devia apanhar o primeiro.»
»«E foi essa a última vez que o viu?»
»Deu-se uma terrível mudança no rosto da mulher quando fiz a pergunta. O rosto tornou-se lívido. Foi alguns segundos antes de ela conseguir pronunciar uma só palavra: «Sim» e quando se ouviu foi num tom de voz rouco, forçado.
»Fez-se silêncio por um momento, e depois a filha falou numa voz calma, clara.
»«Mãe, não advém nenhum bem da mentira», disse ela. «Sejamos francas com este cavalheiro. Voltámos a ver o Sr. Drebber…
»«Que Deus te perdoe!», exclamou a Madame Charpentier, erguendo as mãos e reclinando-se na cadeira. «Mataste o teu irmão...
