Na sala estava uma maleta pequena, que ele puxou e começou a amarrar com correias. Estava ocupado a fazer isto quando o cocheiro entrou na sala.
- Cocheiro, ajude-me aqui a apertar esta fivela - disse ele, ajoelhando-se para trabalhar, mas sempre sem virar a cabeça.
O homem avançou com um ar um tanto carrancudo e provocador e pôs as mãos no chão para ajudar. Nesse momento ouviu-se um ruído seco de metal e Sherlock Holmes levantou-se novamente de um salto.
- Cavalheiros - gritou ele, com os olhos brilhantes -, permitam que lhes apresente o Sr. Jefferson Hope, o assassino de Enoch Drebber e de Joseph Stangerson.
Passou-se tudo num instante... tão depressa que nem tive tempo de me aperceber. Lembro-me perfeitamente daquele momento, da expressão de triunfo de Holmes e do som metálico da sua voz, do rosto estupefacto e irritado do cocheiro, enquanto olhava fixamente para as algemas reluzentes que apareceram nos seus pulsos como por encanto. Durante um segundo ou dois devíamos ter sido um grupo de estátuas. Depois, com um berro inarticulado de fúria, o preso soltou-se das mãos de Holmes com um puxão e precipitou-se para a janela. A madeira e o vidro cederam à sua frente, mas, antes de a ter atravessado, Gregson, Lestrade e Holmes saltaram-lhe em cima como uma matilha. Foi puxado para dentro da sala, e nessa altura deu-se início a uma luta terrível. Ele era tão forte e feroz que nós os quatro fomos sacudidos vezes sem conta. Parecia possuir a força convulsiva de um homem com um ataque de epilepsia. O rosto e as mãos estavam horrivelmente retalhados devido à passagem pelo vidro, mas a perda de sangue não fez diminuir a sua resistência. Isso só aconteceu quando Lestrade conseguiu meter a mão por dentro da gravata e quase o estrangulou.