A situação era muito perigosa. Cada salto do excitado cavalo levava-o de novo de encontro aos chifres, o que cada vez mais o enfurecia. Tudo o que a rapariga podia fazer era manter-se em cima da sela, pois uma escorregadela significaria uma morte terrível debaixo dos cascos dos pesados animais, aterrorizados. Não habituada a incidentes inesperados, a cabeça começou a andar à roda e a diminuir a pressão no freio. Sufocada pela nuvem de pó que se levantou e pelo bafo dos animais que se debatiam, talvez se tivesse entregue ao desespero, se não fosse uma voz amiga perto do ombro que lhe assegurou ajuda. No mesmo instante, uma mão morena e forte agarrou o cavalo assustado pelo freio e, abrindo caminho através da manada, logo a levou para a periferia.
- Espero que não se tenha magoado, menina - disse-lhe o seu defensor, respeitosamente.
Ela levantou os olhos para o rosto moreno e duro e riu, provocante.
- Estou terrivelmente assustada - disse ela, com inocência. - Quem iria pensar que o Poncho se assustaria com estas vacas.
- Graças a Deus que se manteve na sela - disse o outro com ar sério.
Era um jovem alto, de aspecto selvagem, montado num ruão possante e envergando a roupa grosseira de um caçador, com a espingarda comprida ao ombro.
- Suponho que é a filha de John Ferrier - comentou ele -; vi-a sair de casa a cavalo. Quando estiver com ele pergunte-lhe se se lembra de Jefferson Hopes de St. Louis. Se é o mesmo Ferrier, o meu pai e ele eram muito amigos.
- Não seria melhor ir perguntar-lhe você mesmo? - perguntou ela com ar reservado.
O jovem pareceu satisfeito com a sugestão, e os seus olhos negros brilharam de alegria.
- Vou fazer isso mesmo - disse ele. - Estivemos dois meses nas montanhas, e não estamos em condições de fazer visitas. Ele terá de nos receber conforme estivermos.
- Ele tem de lhe estar muito grato, e eu também respondeu ela.
- Ele gosta muito de mim. Se aquelas vacas tivessem saltado para cima de mim, nunca se iria refazer do desgosto.
- Nem eu - disse o seu companheiro.
