Um Estudo em Escarlate - Cap. 11: 4 - Uma Fuga para Salvar a Própria Vida Pág. 94 / 127

No entanto, o velho nunca vacilou na sua resolução de pôr termo à própria vida a concordar com o que considerava a desonra da filha.

Uma noite estava sentado sozinho a pensar nos seus problemas e a procurar em vão uma saída para eles. Nessa manhã aparecera o número 2 na parede da casa e o dia seguinte seria o último do prazo estipulado. Depois, que iria acontecer? Toda a espécie de ideias vagas e terríveis enchiam o seu espírito. E a filha... o que lhe iria acontecer depois da sua morte? Não haveria nenhuma possibilidade de escapar a esta rede invisível que os cercava? Deixou cair a cabeça sobre a mesa e soluçou em face da sua impotência.

Que era aquilo? No silêncio ouviu um som suave, baixo, de uma coisa a raspar - muito nítido, porém, na tranquilidade da noite. Vinha da porta da casa. Ferrier dirigiu-se vagarosamente para o vestíbulo e pôs-se à escuta. Houve uma pausa durante alguns instantes; depois o som baixo, insidioso, repetiu-se. Era evidente que alguém estava a bater suavemente numa das almofadas da porta. Seria algum assassino da meia-noite que viera cumprir as ordens do tribunal secreto? Ou seria algum agente que estava a assinalar que tinha chegado o último dia do prazo? Nesse momento, John Ferrier sentiu que a morte seria melhor do que a expectativa que lhe abalava os nervos e lhe enregelava o coração. Deu um salto para a frente, puxou o ferrolho e abriu a porta.

Lá fora tudo estava calmo e sereno. A noite estava agradável e as estrelas tremeluziam no céu. O pequeno jardim da frente espraiava-se à frente dos olhos do rendeiro, delimitado pela vedação e pelo portão, mas nem lá nem na estrada se via algum ser humano. Com um suspiro de alívio, Ferrier olhou para a direita e para a esquerda; olhando por acaso para os seus próprios pés, viu, para seu espanto, um homem estendido no chão, de cara para baixo, com os braços e as pernas abertos.

Ficou tão desalentado com o que viu que se encostou à parede com a mão na garganta para reprimir um grito.





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