Na manhã seguinte ainda ficou mais abalado. Tinham-se sentado para tomar o pequeno-almoço, quando Lucy, com um grito de estupefacção, apontou para cima. No meio do tecto estava rabiscado, talvez com um pau queimado, o número 28. Era ininteligível para a filha, e ele não a esclareceu. Nessa noite ficou levantado até tarde, com a espingarda, e ficou de guarda. Não viu nem ouviu nada; no entanto, de manhã tinha sido pintado um enorme 27 no lado de fora da porta.
Assim se foram passando os dias; e, sempre que uma nova manhã nascia, ele constatava que os seus inimigos invisíveis tinham deixado, numa posição conspícua, uma inscrição com os dias que ainda lhe restavam do mês da graça. Umas vezes os números fatais apareciam nas paredes, outras nos soalhos e, ocasionalmente, estavam em cartazes afixados no portão do jardim ou nas vedações. Com toda a sua vigilância, John Ferrier não conseguia descobrir a proveniência destes avisos diários. Quando os via, apoderava-se dele um pavor que era quase supersticioso. Tornou-se pálido e inquieto; os seus olhos tinham a expressão perturbada de uma criatura perseguida. Agora, já só tinha uma esperança na vida e que era a da chegada do jovem caçador do Nevada.
Vinte passaram a quinze, e quinze a dez sem que houvesse notícias do ausente. Um a um os números iam diminuindo, e continuava a não haver vestígios dele. Sempre que um cavaleiro descia ruidosamente a estrada ou algum homem que conduzia uma manada gritava aos seus homens, o velho rendeiro corria para o portão, a pensar que finalmente tinha chegado o auxílio. Por fim, quando viu cinco dias darem lugar a quatro e depois a três, perdeu a coragem e a esperança de escapar. Sozinho, com o pouco que conhecia das montanhas que cercavam a colónia, compreendeu que não podia fazer nada. As estradas mais frequentadas estavam vigiadas e guardadas, ninguém podia passar sem uma ordem do Conselho. Para onde quer que se virasse, parecia não haver nenhum meio de escapar à desgraça que pairava sobre ele.
