O Retrato de Ricardina - Cap. 28: CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... Pág. 176 / 178

.. Não posso duvidar.

E ajoelhou, pendida dos braços da viscondessa, apertando entre as mãos os manuscritos de Bernardo. Então, pondo os olhos no céu, através das janelas, ergueu a Deus uma oração de soluços, debulhando-se em lágrimas, com a respiração arquejante, sem vociferar mais que uns sons guturais, entrecortados por convulsões ansiosíssimas.

Alexandre ajoelhou a lado da sua mãe, amparando-a, e disse-lhe:

- Quer ir ver o meu pai?

- Sim! - desafogou ela um gemido que parecia exprimir aquele monossílabo.

- Quando?... Vamos já?

- Já, meu filho.

- Vou mandar sair a caleche.

Alexandre desceu ao escritório, e voltou com o seu pai pelo braço. Bernardo Moniz, a cada passo, tremia e parava, pedindo ao filho que o deixasse cobrar ânimo.

- Então? A sua força? As suas promessas, meu pai?

- Que promessas, filho?... Quem é mais forte do que eu?... A morte não me ameaça, senão depois que a temo... Vamos.

D. Ricardina lançava um xale sobre os ombros, quando o filho assomou sob o reposteiro, e disse:

- Minha mãe!

- Estou pronta, filho. Vamos, Norberto?

- É melhor que o Sr. Bernardo venha cá - disse o sargento. - Olhe... - e apontou para a porta. - Olhe, fidalga, ele aí está!

Ricardina olhou. Não me afouto a descrever o lance. O espetáculo era dois seios que se apertavam com um transporte só comparável ao transe da agonia com que vinte e quatro anos antes se tinham afastado. À volta deles, Matilde, Alexandre e Norberto, com as mãos postas, pareciam pedir à Divina Providência que os defendesse da demência do prazer superior às forças da alma.





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