CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! Desandando para o lado do edifício, onde os de Midões discutiam o modo do saque, e vigiavam as avenidas, Norberto exclamou:
- Rapazes, um já está morto na capela! O Bernardo já vos não faz mal; mas o Frazão e o Torto lá ficaram a escutar a cavalaria! O homem era teso, que mandou os dois ao Inferno! Vocês tenham cuidado convosco, que os Monizes são de má raça. Três dos nossos já lá vão!
- Não há de ficar vivo nenhum deles, ou eu não sou o Isidro Cambado!
- Fiquem vocês, que eu vou dar uma vista a certa porta que não está guardada - recomendou Norberto.
E, desviando-se cosido com as paredes vazadas de lavaredas e catadupas de faíscas, internou-se no arvoredo, de onde a sua fiel clavina cuspira a primeira bala com tão certeiro tiro. Corridos alguns segundos, abateram teto e paredes da capela atroadoramente. Norberto esperava ansioso aquele efeito previsto, para poder asseverar que Bernardo Moniz jazia soterrado no entulho. O contentamento redobrou-lhe as delícias de se estar agachado entre dois troncos de carvalho com a clavina à cara, espiando o lanço de proteger a fuga dos cercados.
Escancararam-se a um tempo as portas, sobrepostas a três patins que ornamentavam com simétricas escadarias o portal do palacete. Assim que o primeiro vulto assomou no limiar, reparou Norberto que dois tiros o fizeram recuar; se vivo, se morto, não pôde ele entrever. Ao mesmo passo, pelas outras portas saíram quatro vultos, a grandes saltos em direitura ao bosque, onde Calvo se entranhara. Por entre eles começou então o salvador de Bernardo a cortar nos perseguidores dos fugitivos com tal destreza e olho que os mais dianteiros, encontrados pelos zagalotes que lhes batiam no peito, fizeram pé atrás, duvidando entrar no escuro, onde lhes relampagueava o afuzilar das escorvas.