Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 22: CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA

Página 136
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA

Instigado pela curiosidade, Alexandre Pimentel levantou os olhos para o primeiro andar da viscondessa da Gandarela, na Rua de S. Francisco. A viúva assim que deu tino do olhar petulante do desconhecido, voltou o rosto de golpe com um sobrecenho entediado da ousadia.

O escritor entendeu que ultrajara os duzentos contos daquela senhora, e a si mesmo se foi repreendendo. Quando saiu da Biblioteca, viu a viscondessa na sacada ao mesmo tempo que uma mendiga, com um filho no braço esquerdo, e outro pela mão, e mais dois aconchegados do seu capote esfarrapado, pedia esmola à fidalga. A vinte passos de distância, viu Alexandre retrair-se da janela o formoso osso dos cem cães na linguagem apologética do seu conhecido.

- O enojo chegou a ódio - disse ele consigo, julgando que a viscondessa fugira da janela para não ser segunda vez insultada pelo olhar fixo de um pobre diabo.

Ao avizinhar-se, porém, viu-a reaparecer, atirar à pobre uma moeda de dez-réis, e recolher-se fechando as portadas. A moeda, remessada à toa, rolou pela rua, e foi bater e parar aos pés do escritor. Alexandre abaixou-se, apanhou-a levou a mão à algibeira, deixou ficar a moeda, e foi depor na mão do filhinho, que a pobre tinha ao colo, uma libra. A mendiga esbugalhou os olhos e exclamou:

- Que é isto, meu senhor?

- É a esmola que lhe atirou a Sr.ª Viscondessa da Gandarela.

- É impossível, meu senhor! - disse a pedinte. - A fidalga nunca me dá senão dez-réis!

Alexandre seguiu seu caminho, dizendo entre si:

- Quem tem duzentos contos dá de esmola dez-réis a uma pobre que é mãe de quatro filhos!

E orvalharam-se-lhe de consolativas lágrimas os olhos. A mendiga aproximou-se do portão, e perguntou a um criado de casaco de galões verdes se a fidalga lhe deitaria uma libra por engano.

<< Página Anterior

pág. 136 (Capítulo 22)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 136

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177