Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: CAPÍTULO III – REAÇÕES

Página 12
CAPÍTULO III – REAÇÕES

- Jantar na mesa! - tinha dito imperiosamente o abade.

Jantou à tripa-forra, tomou café placidamente no caramanchel do jardim, mandou passear as filhas, e ficou palestrando com D. Clementina em assuntos alegres conducentes à elaboração de um bom quilo.

Em seguida, foi vendo os frutos vingados nas árvores, e conversando em termos brandos com a senhora, que lhe admirava o sossego, sem atrever-se a abrir-lhe oportunidade para falar da filha.

Deu ele azo perguntando a D. Clementina que lhe parecera Ricardina.

- Pobre pequena! - disse a medo a senhora.

- Bem pobre... - confirmou o abade.

Nisto, como o sol ainda apertasse, entraram num túnel de murtas e ciprestes, que não deixavam ao sol zebrar o chão apaulado, nem entrever para fora, onde se levantava em cerco um renque de faias entrelaçadas com olmeiros. E conversavam.

Norberto Calvo tinha visto as duas meninas no pomar. Ricardina estava chorando encostada ao seio de Eugénia. O criado não ousou perguntar a sua ama porque chorava. Afastou-se triste, e foi trabalhar no campo convizinho do túnel. Quando passava, ouviu a voz do abade. Aproximou-se de mansinho, movido pelo desejo de entender as lágrimas da sua adorada salvadora, e ouviu o seguinte:

- Estás enganada, Clementina. Eu não obrigo a filha a casar contra sua vontade; e também não consinto que ela case contra a minha. Estes extremos têm o termo média, que é não casar com o teu sobrinho nem com Bernardo Moniz. Não há pai mais indulgente. Outro qualquer dizia-lhe: “É para diante.” Eu não. Fique embora solteira; mas case-se com o divino esposo.

- Freira! - atalhou a senhora.

- Porque não? Freira, e o mais tardar um mês. Mas não freira à moda - freira delambida e derrancada de chichisbéus em grade.

<< Página Anterior

pág. 12 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 12

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177