é contínua e universal em todos os países, e atos tais como estupros, pilhagens, matança de crianças e escravização de povoações inteiras, e represálias contra prisioneiros que chegam a incluir a morte pela água fervente e o enterramento de seres vivos, são considerados normais, e até meritórios, quando cometidos pelos amigos, e não pelo inimigo. Materialmente, porém, a guerra envolve número muito pequeno de cidadãos, principalmente peritos de alta especialização, e causa relativamente poucas vítimas. O combate, quando há combate, trava-se nas vagas fronteiras cuja localização, o indivíduo comum só pode imaginar, ou em torno das Fortalezas Flutuantes que guardam os pontos estratégicos das rotas marítimas. Nos centros de civilização a guerra não significa senão escassez constante de mercadorias de consumo, e a queda ocasional de uma bomba-foguete, que talvez cause algumas dezenas de mortes. Com efeito, a guerra mudou de aspeto. Mais exatamente, mudaram de ordem de importância as razões pelas quais se faz a guerra. Os motivos já parcialmente presentes nas grandes guerras do início do século vinte tornaram-se, dominantes e são agora reconhecidos conscientemente, e levados em consideração.
Para compreender a natureza da guerra atual porque, apesar do reagrupamento que se dá a intervalos, é sempre a mesma guerra - deve-se perceber, em primeiro lugar, que não pode ser decisiva. Nenhum dos três superestados poderia ser definitivamente vencido, nem mesmo pelos dois outros juntos. O equilíbrio é muito grande, e formidáveis suas defesas naturais. A Eurásia é protegida por suas vastas massas de terra, a Oceania pela imensidade do Atlântico e do Pacífico, a Lestásia pela fecundidade e a industrialidade dos seus habitantes.