1984 - Cap. 17: Capítulo XVII Pág. 203 / 309

Este plano, evidentemente, é puro castelo no ar, impossível de realizar. Além disso, não há combate algum, exceto nas zonas contestadas, em torno do Equador e do Polo Norte; jamais se empreende qualquer invasão de território inimigo. Isto explica o fato de serem arbitrárias em muitos pontos as fronteiras entre os super-estados. A Eurásia, por exemplo, poderia facilmente conquistar as Ilhas Britânicas, que geograficamente fazem parte da Europa, e por outro lado seria possível a Oceania levar suas fronteiras até o Reno ou o Vístula. Mas isto violaria o princípio de integração cultural, respeitado por todos os lados, embora jamais formulado. Se a Oceania conquistasse as regiões outrora conhecidas por França e Alemanha, seria necessário, ou exterminar os habitantes, tarefa de enorme dificuldade física, ou assimilar uma população de uns cem milhões de pessoas que, no que se refere ao desenvolvimento técnico, estão mais ou menos no nível da Oceania. O problema é o mesmo para os três super-estados. É absolutamente necessária, para sua estrutura, que não haja contacto com estrangeiros, exceto, limitadamente, com prisioneiros de guerra e escravos de cor. Mesmo o aliado oficial de hoje é considerado com suspeita. Além dos prisioneiros de guerra, o cidadão médio da Oceania jamais põe olhos num cidadão da Eurásia ou da Lestásia, sendo-lhe proibido aprender línguas estrangeiras. Se lhe fosse permitido o contacto com os forasteiros, descobriria que são criaturas semelhantes e que é mentira a maior parte do que ouviu a respeito deles. Acabar-se-ia o mundo fechado em que vive, e se evaporariam o medo, o ódio, e o sentido de razão permanente, de que depende o seu moral. É portanto admitido por todos os lados que, não obstante a frequência com que a Pérsia, o Egito, Java ou Ceilão mudam de mãos, as fronteiras básicas não devem nunca ser atravessadas, salvo pelas bombas.




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