1984 - Cap. 18: Capítulo XVIII Pág. 235 / 309

Capítulo XVIII

Não sabia onde estava. Presumivelmente no Ministério do Amor; mas não havia forma de o verificar.

Encontrava-se numa cela de alto pé-direito, sem janelas, de paredes de porcelana branca e brilhante. Lâmpadas ocultas inundavam-na de luz fria, e havia um zumbido baixo, constante, que ele supôs ter relação com o sistema de ar. Um banco, ou prateleira, de largura apenas suficiente para se sentar, circundava toda a parede, interrompendo-se apenas na porta e, em frente à porta, um vaso de privada, sem tampo. Havia quatro teletelas, uma em cada parede.

Sentia uma dor surda na barriga. Sofria desde que o haviam metido no caminhão fechado e levado embora. Mas também sentia fome, uma fome horrível, devoradora. Vinte e quatro horas talvez se haviam passado desde que comera por último, quem sabe, trinta e seis. Ainda não sabia, provavelmente jamais saberia, se fora preso de manhã ou de noite. E desde que fora preso não lhe haviam dado de comer.

Estava sentado, tão imóvel quanto possível, no banco estreito, as mãos pousadas nos joelhos. Já aprendera a sentar quieto. Se fizesse movimentos inesperados, gritavam-lhe da teletela. Mas a fome crescia. O que mais ambicionava era um pedaço de pão. Teve a ideia de que sobravam umas migalhas nos bolsos da roupa. Era possível até - pensava nisso porque de vez em quando algo lhe parecia fazer cócegas na perna - que tivesse um bom pedaço de côdea. Por fim, a tentação venceu o medo. Meteu a mão no bolsão.

- Smith! - berrou uma voz da teletela. - 6079 Smith W! Tira a mão do bolso!

Tornou a ficar imóvel, mãos cruzadas no joelho. Antes de ter sido levado para ali, haviam-no conduzido a outro lugar, que devia ser uma prisão comum, ou um depósito temporário utilizado pela patrulha.





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