Capítulo 18: Capítulo XVIII
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Não sabia quanto tempo lá ficara; algumas horas, ao menos; sem relógio e sem luz do sol era difícil calcular o tempo. Era um lugar barulhento, mal cheiroso. Tinham-no trancafiado numa cela semelhante à que estava agora, mas imunda, e às vezes cheia, com dez ou quinze pessoas. A maioria era de criminosos comuns, porém havia alguns presos políticos. Ele sentara-se em silêncio junto à parede, roçado pelos corpos sujos, muito cheio de medo e de dor de-barriga para se interessar pelo ambiente, mas ainda notando a tremenda diferença de comportamento entre os presos do Partido e os outros. Os presos do Partido estavam sempre calados e aterrorizados, porém os criminosos comuns pareciam não ligar a mínima a ninguém. Insultavam os guardas aos gritos, resistiam desesperadamente quando os seus bens eram arrolados, escreviam palavras obscenas no chão, comiam alimento contrabandeado que tiravam de misteriosos esconderijos das roupas, e até faziam as teletelas calar, gritando em uníssono, quando o aparelho tentava restaurar a ordem. Por outro lado, alguns pareciam ter boas relações com os guardas, a quem chamavam por apelidos, e tentavam passar cigarros pela vigia da porta. Os guardas, também, tratavam os criminosos comuns com certo respeito, mesmo quando lhes davam uns safanões. Falava-se muito dos campos de trabalhos forçados, aos quais a maioria dos prisioneiros esperava ser enviada. "Tudo azul" nos campos, afirmaram-lhe, contanto que tivesse bons contactos e conhecesse os truques. Havia suborno, favoritismo e roubalheira de todo gênero, havia homossexualidade e prostituição, havia até álcool ilícito, destilado de batatas. Os cargos de confiança eram dados apenas aos criminosos comuns, especialmente gangsters e os assassinos, que formavam uma espécie de aristocracia.
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