Passou o espasmo. Tornou a recolocar o bispo no lugar anterior, mas por um instante não pôde dedicar-se ao estudo sério do problema de xadrez. Seus pensamentos tornaram a vaguear. Quase inconsciente, pôs-se a rabiscar com o dedo na poeira da mesa: 2+2-5
Não podem ver dentro de ti - dissera ela. Mas, podiam entrar na pessoa. - O que te acontecer aqui será para sempre - dissera O'Brien. E era verdade. Havia coisas, atos do indivíduo, dos quais era impossível se recuperar. Algo estava morto em seu peito; queimado, cauterizado. Ele a vira; chegara até a falar-lhe. Não havia perigo nisso. Sabia, quase instintivamente, que agora não se interessavam mais pelo que fizesse. Poderiam ter combinado novos encontros, se algum dos dois o tivesse desejado. Na verdade, haviam-se encontrado por acaso. Foi no parque, num dia feio e hostil de março, quando a terra era como ferro, toda a relva parecia morta e não havia flor em parte alguma, exceto alguns crocus que se haviam arriscado a ser despetalados pelo vento. Ele ia andando depressa, as mãos geladas, olhos lacrimejantes, quando a viu a menos de dez metros de distância. Imediatamente percebeu que ela mudara, de modo mal definido.