1984 - Cap. 5: Capítulo V Pág. 59 / 309

- Para a Semana do ódio. Sabes... coleta domiciliar. Sou o tesoureiro de nosso quarteirão. Estamos dando uma virada grande... vamos dar um bruto show. Te digo que não será minha culpa se a Mansão Vitória não ostentar mais bandeiras que a rua toda. Me prometeste dois dólares. Winston achou e entregou duas notas amassadas e imundas, que Parsons anotou num pequeno canhenho, com a letrinha caprichada do analfabeto.

-Por falar nisso, meu velho - continuou - eu soube que o malandrinho do meu garoto te deu uma estilingada ontem. Passei-lhe uma boa raspança por causa disso. Sim, até disse que lhe tomaria o estilingue se repetisse a proeza.

- Creio que ficou um Pouco chateado de não assistir à execução - disse Winston.

- Ah, bom... quero dizer, é o que deve esperar, não? São dois patifetes, e peraltas, mas tão esforçados! Só pensam nos Espiões, e na guerra, naturalmente. Sabes o que a minha filhinha fez sábado passado, quando a tropa saiu a passeio para as bandas de Berkhamsted? Convenceu duas meninas a acompanhá-la, afastou-se do grupo e passou a tarde toda acompanhando um desconhecido. Estiveram duas horas no encalço dele, pelos bosques a fora, e depois, quando chegaram a Amersham, entregaram-no às patrulhas.

- Por que fizeram isso? - indagou Winston, um tanto chocado.

Parsons continuou, triunfante:

- Minha pirralha convenceu-se de que devia ser um agente estrangeiro... talvez tivesse saltado de paraquedas, por exemplo. Mas aqui é que está o busílis, velho. Sabes o que a levou a segui-lo? Descobriu que ele usava uns sapatos muito esquisitos - disse que antes nunca tinha visto ninguém com sapatos daqueles. Era portanto provável que fosse estrangeiro. Bem espertinha para um espirro de gente, de sete anos, hein?- Que aconteceu ao homem? - perguntou Winston.





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