Winston suspirou alto. Tornou a apanhar a caneta e escreveu:
Ela atirou-se na cama, e imediatamente, sem qualquer preliminar, da maneira mais grosseira e horrível que se pode imaginar, levantei-lhe a saia. Eu... .Tornou a ver-se, à luz débil do abajur, as narinas cheias do odor de percevejo e perfume barato, e no coração uma sensação de derrota e ressentimento que, mesmo naquele momento, vinha de cambulhada com a recordação do corpo branco de Katharine, congelado para sempre pelo poder hipnótico do Partido. Por que teria de ser sempre assim? Por que não poderia ter uma mulher própria, em vez de recorrer a essas aventuras sórdidas, com intervalos de vários anos? Um amor genuíno, porém, era quase impossível de imaginar. Todas as mulheres do Partido eram iguais. Nelas a castidade era tão profunda quanto a lealdade ao Partido. Por meio de cuidadoso condicionamento, em tenra idade, por meio de jogos e água fria, pelo lixo que lhes impingiam na escola, nos Espiões e na Liga Juvenil, por meio de conferências, paradas, canções, lemas e música marcial, tinham expulso o sentimento natural. A razão dizia-lhe que devia haver exceções, mas no fundo do coração não acreditava nisso. Eram todas inexpugnáveis, como desejava o Partido. E o que ele queria, mais do que ser amado, era deitar abaixo aquela muralha de virtude, mesmo que fosse apenas uma vez na vida inteira.