Executado com êxito, o ato sexual era rebelião. O desejo era crimideia. Despertar o instinto de Katharine, se o tivesse conseguido, seria como que seduzi-la, embora fosse sua esposa.
Mas era preciso escrever o resto da história. E ele escreveu:
Levantei o abajur. Quando a vi sob a luz... Depois da treva, a luzinha fraca do candeeiro de querosene lhe parecera muito clara. Pela primeira vez, pôde ver a mulher direito. Dera um passo para ela e se detivera, cheio de luxúria e terror. Tinha dolorosa consciência do risco que corria entrando ali. Era perfeitamente possível que as patrulhas o apanhassem na saída: podiam até estar esperando na porta, naquele momento. E se ele fosse embora sem realizar o que fora fazer!
Era preciso escrevê-lo, era preciso confessá-lo. O que vira de repente, sob a luz da lâmpada, era que se tratava duma velha. A pintura do rosto era tão grossa que dava a impressão de que ia rachar como uma máscara de cartão. Havia fios brancos no cabelo; mas o detalhe verdadeiramente revoltante era a boca, que se entreabria, revelando nada mais que uma caverna negra. A mulher não tinha dente algum.
Ele escreveu com pressa, aos garranchos: Quando a vi sob a luz, percebi que se tratava duma velha, de uns cinquenta anos pelo menos. Mas fui em frente e fiz o que fora fazer.
Tornou a apertar as pálpebras com os dedos. Escrevera tudo, por fim, mas não fazia diferença. A terapia não dera resultado. Continuava, mais forte que nunca, o desejo de berrar obscenidades a plenos pulmões.