Quando regressou ao quarto, a lamparina de petróleo continuava acesa, e ele considerou que produzia calor suficiente para ferver água, Agora, concretizar-se-ia o grande evento do dia - a sua chávena de chá ilícita. Fazia uma quase todas as noites, no maior sigilo. Mrs. Wisbeach recusava-se a fornecê-lo aos hóspedes com o jantar, porque «não podia perder tempo a ferver água extra», mas, ao mesmo tempo, fazer chá no quarto era rigorosamente proibido. Gordon olhou com repulsa a confusão de papéis em cima da mesa e prometeu a si mesmo não trabalhar naquela noite. Saborearia a chávena de chá, fumaria os cigarros que lhe restavam e leria o Rei Lear ou Sherlock Holmes.
Os seus livros achavam-se na prateleira ao lado do despertador Shakespeare na edição Everyrnan, Sherlock Holmes, os poemas de François Villon, Roderick Rendem, Les Fleurs du Mal e um monte de romances franceses. Mas actualmente não lia nada, excepto Shakespeare e Sherlock Holmes. Entretanto, a chávena de chá.
Aproximou-se da porta, entreabriu-a e escutou. Não detetou qualquer som indicativo da presença de Mrs. Wisbeach nas imediações. Convinha ter cuidado, pois ela era muito capaz de subir a escada sorrateiramente e surpreendê-lo em flagrante delito. Fazer chá no quarto representava o crime mais grave, logo a seguir a levar uma mulher para lá. Trancou a porta em silêncio, puxou a mala de baixo da cama e abriu-a, para extrair uma chaleira Woolworth de seis pence, um pacote de chá Lyons, uma lata de leite condensado, um bule e uma chávena. Estavam todos