emendas - uma espécie de labirinto sórdido de papelada de que somente ele possuía a chave. Havia uma capa de pó por cima de tudo e vários cinzeiros que continham cinza de tabaco e as pontas esmagadas de numerosos cigarros. À parte alguns livros, poucos, na prateleira da lareira apagada, a mesa, com a sua balbúrdia de papéis, constituía a única marca que a personalidade de Gordon imprimira no quarto.
Fazia um frio quase insuportável e ele decidiu acender a lamparina de petróleo. Levantou-a e pareceu-lhe muita leve, além de que a lata de reserva também se encontrava vazia - não haveria mais combustível até sexta-feira. Aplicou um fósforo e surgiu uma ténue chama amarelada e relutante em torno da torcida. Com um pouco de sorte, talvez ardesse durante um par de horas. Quando deitava fora o fósforo, o olhar pousou na aspidistra no vaso verde. Tratava-se de um espécime peculiarmente sarnoso. Só tinha sete folhas e dava a impressão de que nunca produzia rebentos. Gordon acalentava algo como uma animosidade' secreta para com a planta. Não poucas vezes tentara matá-la fazendo-a passar sede, apagando cigarros no caule e até misturando sal com a terra, Mas o raio da aspidistra era praticamente imortal. Em quase quaisquer circunstâncias, podia manter uma existência periclitante, porém persistente. Gordon endireitou-se e limpou deliberadamente os dedos sujos de fuligem nas folhas da planta.
Naquele momento, a voz de Mrs. Wisbeach vibrou com intensidade ao longo da escada:
- Mister Comstock!
Gordon acudiu à porta e gritou para baixo:
- Sim?
- Há dez minutos que tem o seu jantar à espera. Por que não vem comer, em vez de me atrasar a lavagem da loiça?
Ele resolveu descer. A sala de jantar situava-se no primeiro andar, nas traseiras, diante do quarto de Flaxman. Era fria, com cheiro a mofo e crepuscular, mesmo ao meio-dia. Havia lá mais aspidistras do que Gordan jamais contara com exatidão. Viam-se por todos os lados - no aparador, no chão, em mesas «ocasionais», na janela, aí em tal quantidade que bloqueavam a claridade. Na semiescuridão,