A sua amizade com o homem só era possível com base no princípio de que pagaria a sua parte de tudo.
Puxou do seu único cigarro e acendeu-o. Não sentia o menor prazer em fumar e caminhar depressa - tratava-se' de um mero acto irreflectido. Não prestava atenção especial ao rumo que seguia. Só lhe interessava cansar-se, andar e andar até que a estúpida fadiga física eliminasse a atitude de indiferença dos Doring. Deslocava-se vagamente para oeste - através dos baldios de Camden Town, ao longo de Totenham Court. Entretanto, anoitecera. Cruzou a Oxford Street, percorreu Covent Garden, encontrou-se na Strand e atravessou o rio pela Ponte de Waterloo. Com a noite, a temperatura baixara. À medida que avançava, a cólera atenuava-se, porém o estado de espírito não melhorava fundamentalmente. Havia um pensamento que não o largava e do qual tentava esquivar-se, sem o conseguir. Os seus poemas. Os seus vazios, insensatos e fúteis poemas! Como pudera alguma vez ter acreditado neles? Pensar que imaginara, ainda há muito pouco tempo, que Prazeres Londrinos viriam a atingir popularidade! Só de pensar nos poemas sentia náuseas. Era como evocar a devassidão da noite anterior. Sabia perfeitamente que não tinha o mínimo talento para aquilo, facto claramente espalhado nos seus trabalhos. Prazeres Londrinos nunca seriam concluídos. Mesmo que vivesse cem anos, não tornaria a escrever uma única linha merecedora de ser lida. Dominado por raiva surda consigo próprio, repetia as quatro estâncias do poema que preparava. Que estendal de incoerências! Rima após rima - uma sequência desastrosa. Ocas como uma lata de bolachas vazia. Era nesse tipo de lixo que' desperdiçara a vida.
Percorrera uma distância apreciável - porventura oito ou dez quilómetros. Tinha os pés quentes e inchados do piso irregular.