Mas do topo, já na periferia do campo visual, dormiam as grossas biografias dos duques. Por baixo, ainda vendível e por conseguinte colocada ao alcance dos interessados, havia a literatura «religiosa» - todas as seitas e credos, amontoados indiscriminadamente. O Mundo do Além, pelo autor de Mãos Espirituais Tocaram-me. A Vida de Cristo, de Dean Farrar. Jesus, o Primeiro Rotário. O último livro do padre Hilaire Chestnut de propaganda C. R. A religião vende-se' sempre, desde que seja suficientemente piegas. Em baixo, exactamente ao nível dos olhos, encontrava-se o material contemporâneo. As últimas obras de Priestley. Livrinhos atraentes de «meios» reimpressas. «Humorismo» estimulador de Herbert, Knox e Milne. Também alguns trabalhos intelectuais. Um ou dois romances de Hemingway e Virgínia Woolf. Vistosas biografias pseudo-Strachey pré-digeridas. Livros pretensiosos, refinados, sobre pintores e poetas seguros por aquelas feras jovens e endinheiradas que deslizam tão graciosamente de Eton para Cambridge e de Cambridge para as críticas literárias.
De olhar vítreo, contemplou a parede de livros. Detestava todos, velhos e novos, intelectuais e incultos, pretensiosos e alegres. O simples facto de os ver recordava-lhe a sua própria esterilidade. Com efeito, ali estava ele, supostamente um «escritor»; e nem sequer sabia «escrever»! Não se' tratava meramente de uma questão de não ser publicado, mas da circunstância de não produzir nada, ou quase nada. E toda aquela porcaria que atafulhava as prateleiras - bem, ao menos isso existia, constituía um tipo de realização. Até as Dell e os Deeping apresentam o seu hectare anual de prosa. Mas eram os livros do género «culto» pretensioso que menos suportava, Livros de crítica e belles-tettres. O tipo de coisa que as feras jovens e endinheiradas de Cambridge escrevem quase a dormir - e que o próprio Gordon podia ter escrito, se tivesse um pouco mais de dinheiro. Dinheiro e cultura! Num país como a Inglaterra, um indivíduo tem tantas possibilidades de ser culto sem dinheiro como de entrar para o Clube de Cavalaria. Com o mesmo instinto que