Os Pobres - Cap. 8: VII - Primavera Pág. 56 / 158

– O pão que eu ganho com o meu corpo, com quem o parto?

– Comigo.

Mas outra do lado berra:

– A gente aqui é como os cães. Toca a rir, raparigas!

Se uma mãe adivinhasse para o que cria aos seus peitos uma filha!... – E virada para um que entra! – Olha lá, ó coisa, puseste-me o corpo negro noutro dia... Tu imaginas que uma pessoa é de ferro?

– Abaixo as patas!

Uma mulher pergunta a um velho ladrão calvo, que a um canto ri, com a boca disforme, escancarada na sombra:

– Tu que eras, ó velho?

Mas ele ri-se com a boca aberta saindo do escuro – só boca – como a fauce desdentada dum lobo, e um outro é que responde:

– O velho era lavrador. Olhai-lhe pra as mãos.

Cheira a terra e a pobre.

O filósofo, a um canto, cisma, olhando a Mouca entretida a falar com os soldados:

– «Tenho muito que te dizer – tanto!... – e não sei o que te hei-de dizer!...

Se me perguntam: – Tu que tens? – parece-me que acordo e que me puxam para a terra.

As árvores levam todo o inverno a sonhar inchadas e um dia acordam desfeitas em sonho. É o que lhes acontece.

Ora vem aí Março, já rebentaram novas fontes...

Maria é um nome tão lindo!» Falam aos grupos, num burburinho. Andam todas mal vestidas e com frio. Uma traz meias amarelas e outra, a quem a tosse desconjunta, cobre-se com um xale de seda que a não aquece.

– E tu que eras?

– Eu nada. Basta de conversas. Dás-me um beijo?

– Tira-te! A ti um beijo!... Antes queria morrer.

Nem morta eras capaz de me dar um beijo. Com essa cara! Olhai pra ele, raparigas... Já viram alguém rir-se assim?

– O minha arrolada!

E deu-lhe um pontapé.

Entretanto duas mais afastadas conversam no escuro:

– Nesse dia tomo um bebedeira, que há-de dar que falar.





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