As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 2: A Face Amarela Pág. 46 / 274

»Estava tudo calmo e sossegado no piso de baixo. Na cozinha, uma chaleira cantava sobre o fogo, e um enorme gato preto estava enrolado na sua cesta. Não havia sinal da mulher que eu tinha visto antes. Corri para outra divisão mas estava igualmente deserta. Subi as escadas e inspeccionei os quartos do piso superior que estavam igualmente vazios. Não estava ninguém em toda a casa. O mobiliário e os quadros eram vulgares, salvo no quarto em cuja janela eu tinha visto o rosto estranho. Esse era confortável e elegante, e todas as minhas suspeitas desabrocharam numa chama amarga e feroz quando vi que, em cima da lareira, havia uma cópia de uma fotografia de corpo inteiro da minha esposa, que tinha sido tirada, a meu pedido, apenas três meses antes.

»Permaneci na casa o tempo suficiente para me certificar que a casa estava absolutamente vazia. Então eu saí, sentindo um peso no coração como nunca tinha sentido antes. Quando cheguei a casa, a minha esposa veio ter comigo, mas eu estava muito magoado e irritado para conversar com ela e, afastando-a, continuei para o meu estúdio. Mas ela seguiu-me antes que eu conseguisse fechar a porta.

»“Peço desculpa por ter quebrado a minha promessa, Jack” – disse ela – “mas se soubesses todas as circunstâncias tenho a certeza que me perdoarias.”

» “Conta-me tudo, então” – disse eu.

»“Não posso, Jack. Não posso!” – Disse, emocionada.

»“Até que me digas quem é que tem vivido naquela casa, e a quem é que deste aquela fotografia, nunca poderá haver qualquer confiança entre nós” – disse eu, e rompendo com ela, saí de casa. Isto passou-se ontem, Sr. Holmes, e não a voltei a ver desde então, nem soube mais nada sobre este estranho caso. É a primeira sombra que paira sobre nós, e tem-me abalado de tal forma que não sei o que fazer.





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