Um Estudo em Escarlate - Cap. 13: 6 - Uma Continuação das Memórias do Dr. John Watson Pág. 116 / 127
»Quando já o tinha dentro do cabriolé, o meu coração tanto saltou de alegria que receei que naquele instante o meu aneurisma piorasse. Fui devagar, meditando no que devia fazer. Podia levá-lo para o campo, e lá, num caminho deserto, teria a minha última entrevista com ele. Tinha quase decidido isto quando ele me resolveu o problema. A paixão pela bebida voltara a apoderar-se dele, e mandou-me parar à porta de um bar. Entrou, deixando recado para eu esperar. Ficou lá até à hora de fechar e, quando saiu, estava tão embriagado que compreendi que tinha o jogo nas mãos.
»Não pensem que tencionava matá-lo a sangue-frio.
Teria sido apenas justiça rígida se o tivesse feito, mas era incapaz de o fazer. Resolvera há muito tempo que ele deveria ter uma oportunidade para salvar a vida, se escolhesse tirar partido dela. Entre os muitos empregos que tive na América durante a minha vida errante, uma vez fui porteiro e varre dor no laboratório da Universidade de York. Um dia o professor estava a dar uma aula sobre venenos e mostrava aos alunos um alcalóide qualquer, como ele lhe chamou, que extraíra de um veneno de umas setas sul-americanas e que era tão forte que um grânulo muito pequeno significava morte imediata. Descobri o frasco onde guardavam esta preparação e quando todos tinham saído tirei um pouco. Eu era um farmacêutico bastante bom, e assim transformei esse alcalóide em pequenos comprimidos solúveis e meti cada comprimido numa caixa com um comprimido semelhante feito sem veneno. Nessa altura resolvi que assim que tivesse uma oportunidade os homens deveriam tirar um destas caixas, enquanto eu engolia o comprimido que ficasse na caixa.