Eurico, o Presbítero - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 109 / 186

Entretanto este, apenas só, começou a caminhar agitado e a passos largos de uma até outra extremidade do aposento, que ricos panos da Síria dividiam dos que ocupavam os servos. No seu gesto, turbado por afectos encontrados, passavam sucessivamente os vestígios destes: ora a indignação lhe pesava nos sobrolhos confrangidos; ora lhe sorria nos olhos um pensamento voluptuoso; ora a compaixão parecia suavizar-lhe esse feroz sorrir. Por fim, o moço Abdulaziz, como vencido pela tempestade da sua alma, assentou-se no almatrá e cobriu o rosto com ambas as mãos. Conservou-se assim por largo tempo, em silêncio e quedo, até que, afinal, as suas paixões triunfaram e rebentaram com violência.

Batendo as palmas, o amir bradou:

— Al-Fehri!

Um dos panos que dividiam a tenda em várias quadras alevantou-se de um lado, e um vulto negro e disforme, que parecia arrastar- se com dificuldade, encaminhou-se para o amir. Era como um tronco de gigante pelo espadaúdo do corpo, pela amplidão do ventre e pela desmesurada grossura da cabeça, onde só lhe alvejavam os olhos embaciados. O monstro, apenas deu alguns passos, parou, cruzando sobre o peito os braços grossos e curtos, semelhantes a dois madeiros informes.

— Eunuco — disse Abdulaziz com voz agitada —, conduze aqui a última das minhas cativas que especialmente confiei de ti.

O vulto recuou e, franzindo a espécie de reposteiro que lhe dera passagem, desapareceu. Passados alguns momentos, tornou. Uma figura de mulher, cujas formas mal se podiam adivinhar através dum raro cendal que a cobria até os pés, acompanhava-o. Com passo firme, ela se encaminhou para Abdulaziz, e o eunuco desapareceu de novo.





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