Eurico, o Presbítero - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 127 / 186

— Segue os desvios da serra — respondeu Sanción. — Astrimiro e Gudesteu a acompanham: Hermengarda está salva. Só até este ponto nos ligava o juramento que demos. Foste nosso capitão: agora cessaste de o ser. Homens livres numa terra serva, queremos combater onde tu combates, morrer se tu morreres. Ao menos — acrescentou em tom amargo — não poderás dizer de novo que foste o último no pelejar enquanto os valentes fugiam.

— Louco! — exclamou o cavaleiro negro. — Junto do Chrysus a Espanha pedia aos seus filhos que morressem sem recuar: aqui é também a pátria que exige dos seus últimos defensores que não se votem a morte inútil. Fujamos! vos digo eu; porque a fuga não pode desonrar aqueles que mil vezes têm provado quanto desprezam a vida. Vede... Não são apenas alguns corredores que nos perseguem: são esquadrões e esquadrões de agarenos que transpõem após nós a assomada.

Mas eles não o escutavam: Sanción, seguido dos seus nove companheiros, investia com os árabes, que tinham entretanto chegado.

Semelhante à segure, entrando no âmago do carvalho, sob os golpes do robusto lenhador, aquele punhado de homens, a cuja frente se achava Sanción, penetrou no maciço da cavalaria árabe. O ferir das espadas nos saios e elmos retiniu num som estridente, e a alarida dos sarracenos foi cortada por momentâneo silêncio: depois, ouviram-se alguns gemidos abafados, a que sucederam novos gritos de ameaça e furor e o bater e o reluzir trémulo do ferro, cruzando-se com o ferro, e o tropear confuso dos ginetes em recontro bem travado. Os árabes haviam parado diante de tanta ousadia. Mas, logo que o primeiro espanto passou, os dez guerreiros cristãos, acometidos por todos os lados, começaram a recuar. O cavaleiro negro, que ficara quedo, disse-lhes então:

— Quisestes tentar o Senhor com uma façanha inútil, e o Senhor vos abandona. Salvai as vidas! Exige-o o desagravo da Cruz e a liberdade da Espanha!





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