Eurico, o Presbítero - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 128 / 186

E pondo-se ao lado de Sanción fez girar a sua borda destruidora no meio dos infiéis. Naquele ímpeto os inimigos também recuaram, e o cavaleiro, aproveitando este rápido instante, prosseguiu:

— Aos que se envergonham de poupar a vida, para a perder com glória quando o dia do sacrifício chegar, darei eu o exemplo! Podeis dizer aos nossos irmãos que o primeiro em fugir foi aquele que nunca fugiu: foi o cavaleiro negro!

E, voltando as costas aos agarenos, internou-se na espessura.

Habituados a considerar o desconhecido como um ente misterioso e extraordinário, os guerreiros de Sanción deram volta e o orgulhoso gardingo viu-se obrigado a imitá-los.

Ei-los vão! Endireitando a carreira para o lado do norte, dirigem-se após Hermengarda, enquanto os almogaures árabes, guiados pelo ruído dos ginetes, os cerram de perto. Os esquadrões, penetrando na selva, assemelhavam-se a uma serpe disforme, que se desenrolava, coleando e estirando-se por entre o arvoredo, e que de momento a momento ameaçava tragar os fugitivos, os quais mal podiam conservar uma pequena distância entre si e os seus implacáveis perseguidores.

A Lua passava então nas alturas do céu. O ar, posto que frio, estava manso e diáfano. Era uma formosa noite de Inverno; mais formosa que as sossegadas noites do Estio. As árvores, na maior parte desfolhadas, deixavam o luar, por entre os ramos despidos e tortuosos, desenhar no chão figuras estranhas, que vacilavam indecisas: os robles nodosos e calvos, misturados com os rochedos piramidais, que se alevantavam irregulares e fantásticos nas arestas das encostas íngremes, nas lombadas penhascosas das serras, pareciam fileiras de demónios, caminhando de roldão a despenharem-se nos vales ou dançando nos visos das alturas.





Os capítulos deste livro