Eurico, o Presbítero - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 91 / 186

Enquanto Táriq, rendida Toletum, subjugava uma parte da Cartaginense, Musa, o amir de África, desembarcando nas costas da Espanha com um novo exército, rendia Híspalis e, atravessando o Ana, submetia ao jugo do califa todo o Ocidente da Península Ibérica. As relíquias do exército godo, que não haviam podido resistir a Táriq, muito menos poderiam impedir a passagem do amir. Assim, Teodemiro, ajuntando esses soldados dispersos, acolhera-se às serranias de Ilípula, na extremidade oriental da Bética. Musa, porém, enviara contra ele seu filho Abdulaziz, um dos mais famosos guerreiros do Islame. Apesar da superioridade do exército árabe, a luta fora longa e terrível. Teodemiro sucumbira por fim; mas, posto que vencido, o seu valor obrigara os muçulmanos a concederem-lhe vantajosas condições de paz. Os vastos domínios que ainda possuía foram-lhe conservados, reconhecendo ele a supremacia do amir, e os Godos puderam, ao menos nesse canto da Bética, achar uma parte da segurança e repouso que faltava no resto da Espanha, onde o alfange da conquista assinalava todas as frontes com o ferrete da servidão e reduzia a montões de ruínas as cidades, nas quais o espírito do cristianismo e da liberdade ousava relutar contra o domínio do califa e contra a religião do Corão.

Teodemiro reinou largo tempo nos distritos orientais da Bética, mas abandonado pelos mais nobres guerreiros, para quem a paz com os infiéis seria incomportável desonra. As montanhas das Astúrias eram o verdadeiro e único refúgio da independência goda. Em volta de Pelágio ajuntavam-se todos os homens esforçados que não tinham ainda desesperado da Providência e da própria espada. Muitos deles adormeceram para sempre nas solidões daqueles agrestes esconderijos, sem que vissem verificar-se as suas esperanças; outros, porém, saudaram ainda a aurora do dia da vingança e puderam dizer, morrendo: «A Espanha será salva!»

Era passado um ano depois da batalha do Chrysus. O número dos companheiros de Pelágio aumentava diariamente com os homens generosos que, depois da paz de Teodemiro com os árabes, deixavam este, para salvarem a sua independência nos fraguedos das Astúrias e da Cantábria.





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