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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 92

Esses contínuos socorros fortaleciam a constância do moço guerreiro, que via crescer e sussurrar a torrente dos invasores em volta das suas montanhas. Abdulaziz, o valente filho de Musa, subjugara a Lusitânia e a Cartaginense e, saqueando as cidades opulentas do Norte que lhe abriam as portas, metia a ferro e fogo as que tentavam resistir-lhe. Os rolos de fumo que se alevantavam das povoações incendiadas mostravam aos cavaleiros de Pelágio que já pelos campos góticos flutuava triunfante o estandarte de Mohammed. Rugindo de cólera ao contemplarem este espectáculo, apertavam contra o peito a cruz das espadas. Então, sentiam escorregarem-lhes as lágrimas pelas faces tostadas, e descer-lhes com elas aos selos da alma a resignação e a esperança na piedade de Deus.

Debaixo de semblante severo, mas sereno, Pelágio sabia esconder a amargura que lhe trasbordava do coração. No viço da juventude, o espírito lhe encanecera em meio dos dolorosos sucessos da sua ainda tão curta vida. A todas as mágoas comuns se lhe acrescentavam outras particulares, porventura mais pungentes. A maior parte dos seus companheiros haviam trazido para as Astúrias os pais decrépitos, os filhos e as esposas, todos aqueles por quem repartiam os afectos do seu coração. Ele, porém, não pudera salvar uma irmã que adorava e que Fávila, expirando, entregara em seus braços, para que fosse o defensor e o abrigo da que ficava órfã no mundo. Ao sair de Tárraco, para se ir ajuntar à hoste de Roderico, o mancebo deixara Hermengarda nos paços paternos, encomendada à guarda de alguns velhos bucelários de seu pai. Quando, depois da batalha junto do Chrysus, se acolhera às montanhas, onde só podia conservar a liberdade, Pelágio avisara sua irmã do lugar em que existia e lhe comunicara todos os meios de penetrar naquela quase inacessível guarida. A resposta de Hermengarda foi digna de uma neta dos godos: dizia-lhe que brevemente seria com ele; porque preferia um covil de feras habitado por Pelágio às delícias de Tárraco, sobre a qual não tardaria, talvez, a pesar o férreo jugo dos muçulmanos. Com os bucelários que lhe deixara, ela ia atravessar a Espanha, encaminhando-se a Légio, onde devia chegar dentro de poucos dias.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 92

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176