- Não se ria da minha curiosidade, Sr. Mesquita... - começou a viúva, referindo a singular passagem que lhe espertara vivo desejo de saber quem era o homem que passara com ele.
- É o redator do jornal *** Foi meu condiscípulo. Chama-se Alexandre Pimentel. É pobre. Nasceu no Brasil. Vivia com a mãe em Coimbra. É talento de primeira ordem. Passa as manhãs na Biblioteca a parafusar numa obra que há de escrever, quando tiver recursos com que a possa publicar. Não sei dizer a Vossa Excelência onde mora. Creio, porém, que deve ser em casa menos de modesta; porque em Coimbra tinha muitos amigos que ele convidava para sua casa; e sei que em Lisboa não convida nenhum. Requereu vários lugares, que lhe não deram; porque Alexandre Pimentel é um celestial doido que não quis nunca pedir nem receber cartas de proteção para os ministros. Dizia ele que a sua vida sem mácula e cinco prémios sem favor no curso dos seus estudos eram ou deviam ser a máxima habilitação. Antes de fazer-se revisor e tradutor, dizem-me que chegou a trazer as botas rotas. Agora, vive regularmente do seu estipêndio de jornalista. Não advoga, porque diz ele que o advogado é um mercenário de ladrões poderosos; e que, se o não for, apenas encontrará pobre que lhe procure o seu patronato. Não posso dar outros esclarecimentos a Vossa Excelência.
- Mas dá-me a sua palavra de cavalheiro que não há de revelar ao seu condiscípulo esta minha curiosidade?
- Oh! Sr.ª Viscondessa, minha senhora!... Vossa Excelência imagine que conversou comigo sonhando. Nem sombra de revelação a tal respeito.
À volta de quinze dias, o bacharel Alexandre Pimentel recebeu aviso do Ministério dá Justiça que a sua Majestade houvera por bem despachá-lo delegado do procurador régio da comarca de ***.