- Ah!, que foi feita, cavalheiro - continuei -, dá convicção que tinha de que a Providência me havia conservado nesta ilha para lhe salvar a vida, convicção que a sua coragem exaltava ainda há tão pouco tempo? Pela minha parte, apenas vejo uma dificuldade nisto.
.- Qual? - perguntou.
- Que existe entre essa gente três ou quatro homens de bem a quem deve perdoar-se. Se fossem do mesmo modelo dos restantes membros da tripulação, teria acreditado que a Providência os reunira para caírem em nosso poder, mas tenha confiança em mim; todos quantos desembarquem serão nossos, e a sua vida ou a sua morte dependerão do seu comportamento.
Estas palavras, pronunciadas com voz firme e alegre semblante, incutiram-lhe coragem, e meteu mãos à obra connosco, vigorosamente.
Logo que vimos a chalupa afastar-se do buque, pensámos em apartar os nossos prisioneiros e em pô-los em segurança. Havia dois nos quais o comandante confiava menos do que nos outros; por conseguinte, fi-los levar por Sexta-Feira e um dos prisioneiros salvos para a minha caverna, onde ficariam bastante longe para serem ouvidos ou descobertos, ou para encontrarem o caminho através do bosque, se fossem hábeis o bastante para se escaparem. Deixou-os lá bem amarrados, embora com algumas provisões, prometendo-lhes que, se se mantivessem quietos, os poria em liberdade dentro de um ou dois dias mas que, se fizessem qualquer tentativa de evasão, os mataria sem misericórdia. Juraram suportar a prisão com paciência, e manifestaram-se reconhecidos pelo bem como eram tratados, deixando-lhes comida e luz, pois Sexta-Feira tinha-lhes entregue algumas das velas feitas por nós, e havia-lhes dado a entender que ele ficaria de sentinela à entrada da gruta.
Os restantes prisioneiros foram mais bem tratados; no entanto, dois permaneciam amarrados, porque o comandante não se atrevia a fiar-se neles, mas os dois outros foram postos ao meu serviço por recomendação do comandante, e sob a promessa solene de viver e morrer connosco.