Inferno - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 59 / 102

Aronte é aquele que tem o ventre virado para trás, que nos montes de Luni, onde trabalha o carrarense que por baixo habita, entre mármores brancos teve a gruta em que vivia, de onde nada o impedia de o mar e as estrelas contemplar. E aquela que vai cobrindo os selos, que não vês; com as suas soltas tranças e que para baixo deles coberta de pêlos tem a pele foi Manto, que errou por muitas terras até se deter, por fim, naquela onde nasci, pelo que me agrada que um pouco me escutes. Depois de seu pai perder a vida e se ser submetida a cidade de Baco, ela andou durante muito tempo pelo mundo. Ao norte da bela Itália existe um lago, no sopé dos Alpes que sobre o Tirol a Alemanha encerram, que por nome tem o de Benaco. Mil nascentes, creio, e mais até, entre Garda, Val Camonica e o Apenino, alimentam as águas que em tal lago estancam. Há no meio um lugar onde os pastares de Trento, de Brescia e de Verona poderiam abençoar, se tal caminho fiz essem. Ali fica Peschiera, belo e sólido castelo para aos de Brescia e Bérgamo fazer frente, e a margem em redor mais baixa é. Ali é mister que se derrame tudo o que no Benaco não cabe e forme um rio por entre verdes prados. Assim que as águas a correr começam, perde o nome de Benaco e chama-se então Mincio, até Governo, onde no Pó desagua. Após pequeno curso encontra um vale pelo qual se espraia, tornando-o pantanoso, e por isso é vulgar no Verão ser insalubre. Por ali passando a donzela cruel'°, viu, no meio do pântano, terra inculta e de habitantes desprovida. Para escapar a todo o consórcio humano, ali com os seus servos se quedou entregue à sua arte e viveu e deixou o corpo inanimado. Depois, os homens que pelos arredores estavam espalhados a tal lugar se acolheram, pois era fértil devido ao pântano que por todo o lado o cercava. Sobre aqueles ossos mortos erigiam a cidade e, em honra da que primeiro escolhera o lugar, chamaram-lhe Mantua, sem mais escrutinarem". Já foram mais numerosos os seus habitantes, antes de a loucura de Casalodi por Pinamonte ser burrada. Isto te digo para que, se alguma vez a outros factos ouvires atribuir a fundação da minha terra, nenhuma falsidade em ti à verdade faça sombra.





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