Inferno - Cap. 32: Capítulo 32 Pág. 95 / 102

Jamais travessa alguma uniu tão fortemente madeira com madeira; assim como dois bodes marraram juntos, tal a ira que os acometeu. E um, que sem ambas as Grelhas se quedara, por causa do frio, com a cabeça baixa ainda, perguntou: «Porque nos fitas tanto? Se queres saber quem são estes dois, o vale onde o Bisenzo se despenha foi do seu pai, Alberto, e deles. De um mesmo corpo Trotaram e poderás por toda a Caina procurar, que não encontrarás sombra mais digna de no gelo estar submerso, nem aquele a quem foi trespassado o peito e a sombra por um golpe da mão de Artur, nem Focaccia, nem este que me estorva assim com a cabeça, de tal modo que nada mais consigo ver, e se chamou Sassolo Mascheroni. Se és toscano, saberás quem fui. E, para que não me forces a gastar mais palavras, fica sabendo que fui Carmiccioni de Pazzi e espero Carlino, que me há-de fazer desculpar.»

Vi a seguir mil faces lívidas de frio, donde me veio o terror, que sempre terei, aos lagos gelados. E, enquanto caminhávamos para o centro, em relação ao qual tudo gravita, e eu na sombra eterna estremecia, quis, não sei se a suprema vontade, se o destino ou o acaso, que, andando entre as cabeças, batesse fortemente numa delas com o pé. Chorando, gritou: «Porque me pisas tu? Se não vens acrescer a vingança de Montaperti, porque me molestas?» E eu disse: «Meu mestre, espera-me aqui um pouco, para que eu esclareça uma dúvida que tenho acerca destes dois; depois nos daremos a pressa que quiseres.»

O meu guia parou e eu disse àquele que ainda blasfemava com violência: «Quem és tu que desse modo os demais repreendes?» «E quem és tu que te vais por Antenora magoando o rosto alheio», ripostou, «de tal maneira que, se eu fosse vivo, de mais teria para mim?» «Vivo sou e pode ser-te grato», foi a minha resposta, «se buscas a fama, que o teu nome indua entre os outros que anotei.»





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