Inferno - Cap. 32: Capítulo 32 Pág. 96 / 102

E ele tornou: «O meu desejo é o contrário. Vai-te daqui e não me faças sofrer mais, que mal soam as tuas lisonjas por estes locais!» Agarrei-o então pela nuca e disse: «Melhor será que digas o teu nome, ou não te restará um só cabelo!» Ao que me respondeu: «Mesmo que sem cabelo me deixes, não te direi quem sou, nem me revelarei ainda que me dês mil pontapés na cabeça.»

Tinha já os seus cabelos entre as mãos e mais de uma mecha lhe havia arrancado, enquanto ele gania de olhos baixos, quando outro gritou: «Que tens tu, Bocca? Não te basta estalar os dentes, para teres ainda de ladrar? Que diabo te bate?» «Agora», disse eu, Já não quero que fales, maldito traidor, que, para tua vergonha, de ti darei notícia verdadeira.» «Vai-te», respondeu, e conta o que quiseres, mas não omitas, se lograres sair daqui, nada sobre aquele que ora a língua tão apressada teve: chora aqui o dinheiro dos Franceses. Eu vi (poderás tu dizer) o de Duera onde os pecadores estão imersos no gelo. Se te perguntassem por outros que aqui estão, tens ao lado o de Beccaria, a quem Florença segou a garganta. Gianni de Soldanieri creio que está mais além com Ganelon e Tebaldello, que as portas de Faenza abriu quando a cidade dormia.»

Tínhamo-nos afastado dele já quando vi dois que gelados estavam numa mesma gruta, dispostos de tal modo que a cabeça de um ao outro fazia de chapéu; e, tal como por fome ter o pão se come, assim o de cima os dentes cravou no outro, naquele lugar onde o cérebro à nuca se junta Não foi de outra maneira que mordeu Tideu, cheio de furor, as têmporas de Menalipo, do que aquele mordia o crânio e o que dentro se continha «O tu, que de tão bestial maneira mostras o ódio àquele que comes, diz-me o motivo», disse eu, «de tal situação, pois, se por causa dele com razão te queixas, sabendo quem sois e qual seu crime foi, no mundo lá de cima te recompensarei, assim não seque a língua com que falo.»





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