1984 - Cap. 9: Capítulo IX Pág. 115 / 309

Uns minutos depois, a mesa da jovem estava cheia.

Ela porém devia tê-lo visto encaminhar-se na sua direção, e talvez lhe percebesse o intento. No dia seguinte, ele procurou chegar cedo. Com efeito, lá estava ela, numa mesa mais ou menos no mesmo lugar, e só. A pessoa que o antecedia na fila era um homenzinho de movimentos rápidos, feito um besouro, de cara chata e olhos miúdos e suspicazes. Quando Winston se voltou do balcão, com a bandeja, viu que o homenzinho ia reto na direção da mesa da moça. O coração caiu-lhe aos pés. Havia lugar numa mesa pouco mais adiante, Porém na aparência do homem alguma coisa dizia que amava o próprio conforto o suficiente para escolher a mesa mais vazia. Com gelo no coração, Winston acompanhou-o. Não adiantaria nada, a menos que pudesse ficar a sós com ela.

Nesse momento houve um baque tremendo. O homenzinho estava de quatro, a bandeja voara longe, e dois arroios de sopa e café corriam pelo soalho. Ele levantou-se com uma olhada maligna a Winston, de quem evidentemente desconfiava de o haver derrubado. Mas nada sucedeu. Cinco segundos depois, com o coração dando pinotes, Winston sentava-se à mesa da moça.

Não a olhou. Desocupou a bandeja e começou a comer. Era importantíssimo falar imediatamente, antes que viesse alguém. No entanto, um medo terrível se apossara dele. Uma semana se passara desde que ela lhe dera o recado. Talvez tivesse mudado de ideia, com certeza mudara de ideia! Era impossível que uma coisa dessas corresse bem; isso não acontece na vida real. Ele teria calado para sempre se naquele momento não visse Ampleforth, o poeta de orelhas peludas, vagando pelo salão, à procura de um lugar para sentar. Com seus modos aéreos, Ampleforth tinha simpatia por Winston, e certamente escolheria aquela mesa, se o visse.





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