1984 - Cap. 17: Capítulo XVII Pág. 214 / 309

Existia pela primeira vez a possibilidade de fazer impor não apenas completa obediência à vontade do Estado como também completa uniformidade de opinião em todos os súditos.

Depois do período revolucionário de 1950 a 1970, a sociedade reagrupou-se, como sempre, em Alta, Média e Baixa. Mas a nova Alta, ao contrário das antecessoras, não agia por instinto: sabia o que era preciso para garantir sua posição. Havia muito tempo se percebera que a única base segura da oligarquia é o coletivismo. A riqueza e o privilégio são mais fáceis de defender quando possuídos em conjunto. A chamada "abolição da propriedade privada", que se verificou em meados do século, significou, com efeito a concentração da propriedade em número muito menor de mãos, mas com a diferença de que os novos donos eram um grupo em vez de uma massa de indivíduos. Individualmente, nenhum membro do Partido possui coisa alguma, exceto ninharias pessoais. Coletivamente, o Partido é dono de tudo na Oceania, porque tudo controla, e dispõe dos seus produtos como bem lhe parece. Nos anos que se seguiram à Revolução, conseguiu galgar quase sem oposição esse posto de comando, porque todo o processo foi apresentado como ato de coletivização. Sempre se imaginara que se a classe capitalista fosse expropriada, o Socialismo adviria: e inquestionavelmente os capitalistas tinham sido expropriados. Fábricas, minas, terras, casas, transporte - tudo lhes fora tomado: e dado que -não mais eram propriedade particular, evidentemente deviam ser propriedade pública. O Ingsoc, que brotou do movimento socialista anterior e dele herdou a fraseologia, com efeito executara o principal do programa socialista. E o resultado, previsto e pretendido antecipadamente, fora tornar permanente a desigualdade econômica.





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