- Sala 101 - repetiu o oficial.
A cara do homem, já muito pálido, ficou duma cor que Winston não acreditava possível. Era um tom verde, positivo, inconfundível.
- Faz comigo o que quiseres! - urrou. - Há semanas que venho passando fome. Deixa-me morrer de fome. Fuzila-me, enforca-me. Condena-me a vinte e cinco anos. Alguém mais que queres que eu denuncie? Dizei o nome e eu confesso imediatamente. Não me importa quem seja, nem o que faças com ele. Tenho mulher e três filhos. O mais velho ainda não tem seis anos. Podes pegar todos eles e degolá-los na minha frente, que eu olho sem virar a cabeça. Mas a sala 101, não!
- Sala 101.
O homem, frenético, olhou em torno, examinando os outros presos, como se acreditasse poder oferecer outra vítima no seu lugar. Seus olhos pousaram na face ensanguentada do homem sem queixo. Estendeu o braço esquelético.
- É aquele que deves levar, e não eu! - gritou. -Não ouviste o que ele disse depois que o esmurraram. Dá-me uma oportunidade e eu te contarei tudo, palavra por palavra. É ele que é contra o Partido, eu não! - Os guardas deram um passo à frente. A voz do homem elevou-se a um urro.
- Não ouviste o que ele disse! - repetiu. - A teletela não estava funcionando direito. É ele que queres. Leva-o, não a mim!
Os dois guardas robustos iam tomá-lo pelos braços, mas nesse momento exato ele se atirou ao chão da cela e agarrou-se a uma das pernas de ferro que amparava o banco. Pôs-se a uivar, como um animal. Os guardas seguraram-no, para puxá-lo dali, mas ele resistiu com força espantosa. Durante uns vinte segundos, talvez, os dois atletas forcejaram. Os presos continuavam sentados, imóveis, olhando para frente.