Fabulosas estatísticas continuaram saindo da teletela. Em comparação com o ano anterior havia mais comida, mais roupa, mais casas, mais móveis, mais panelas, mais combustível, mais navios, mais helicópteros, mais livros, mais recém-nascidos - tudo aumentara, exceto a doença, o crime e a loucura. Ano após ano, minuto após minuto, todo mundo, tudo, tudo o mais ganhava as alturas. Como fizera Syme antes, Winston tomou a colher e com o caldo se pôs a desenhar calungas sobre a mesa. Meditava, ressentido, na textura física da vida. Teria sido sempre assim? Teria a comida tido sempre o mesmo gosto? Olhou em torno da cantina. Um salão de teto baixo, paredes sujas do contacto de inúmeros corpos; maltratadas cadeiras e mesas de metal, tão juntinhas que os cotovelos se tocavam. Colheres arcadas, bandejas trincadas, rústicas xícaras brancas; gordurentas todas as superfícies, sujeira em cada frincha; e um cheiro azedo, composto de gin ordinário, café ruim, guisado metálico e roupa suja.