- Farta-se de aludir às aspidistras.
- São um tema extremamente importante.
Ravelston tornou a fazer deslizar o indicador pelo nariz e desviou os olhos, embaraçado.
- Não se importa que lhe faça uma pergunta? Tem namorada?
- Por amor de Deus! Não me fale dela!
Não obstante, Gordon pôs-se a falar de Rosemary. Este nunca a vira e, de momento, ele próprio não se recordava sequer de como era. Não conseguia lembrar-se de como gostavam um do outro, do prazer que sempre sentiam quando estavam juntos - o que raramente acontecia -, da paciência que ela revelava perante a sua disposição intolerável. Não se recordava de nada, à excepção de que não queria dormir com ele e havia uma semana que lhe escrevera pela última vez. No ar nocturno desagradavelmente frio e húmido, com cerveja no estômago, considerava-se uma criatura isolada e abandonada. Segundo a sua maneira de ver, Rosemary tratava-o com «crueldade». Perversamente, pelo mero prazer de se atormentar e embaraçar Ravelston, começou a inventar um carácter imaginário da rapariga. Construiu a imagem de uma criatura insensível que o desfrutava e mantinha à distância, mas não hesitaria em cair-lhe nos braços se tivesse algum dinheiro.
E Ravelston, que não a conhecia, não duvidava inteiramente do que ouvia. Apesar disso, aventurou:
- Mas oiça cá. Essa moça, Miss… Miss Waterlow, não foi como disse que se chamava?... Rosemary, não gosta ao menos um pouco de si?
A consciência atormentava Gordon, embora não profundamente. Na realidade, não podia dizer que ela não lhe ligava mesmo nenhuma.
- Sim, gosta. À sua maneira, talvez até goste muito. Mas não o suficiente, compreende? Não pode, enquanto eu não tiver dinheiro. Gira tudo à volta do dinheiro.
- Não acredito que seja assim tão importante. Aliás, há outras coisas.